domingo, 31 de julho de 2011

Cirurgias de redução em alta no RN


Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Osedentarismo e os maus hábitos alimentares, além do aumento do poder aquisitivo da população, são apontados por especialistas como fatores que tem causado o aumento substancial pelos norte-rio-grandenses da cirurgia bariátrica, procedimento conhecido como redução de estômago e indicado para pacientes que têm obesidade mórbida. A cada ano a demanda pelo método entre os potiguares cresce entre 20% e 30% na rede particular, segundo análise do vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Reynaldo Quinino. Na rede pública, 300 pessoas aguardam na lista de espera do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), onde o procedimento é realizado de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A procura pelo procedimento, contudo, não é restrita ao Rio Grande do Norte. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica apontam que em oito anos a quantidade de cirurgia de redução de estômago realizada cresceu 375% nopaís. Em 2003 foram realizados 16 mil procedimentos enquanto que em 2010 o número chegou a 60 mil. O salto é ainda maior quando comparado com 1999, quando o número de cirurgias foi de apenas 5 mil - um aumento expressivo de 1.100% .

Na rede pública, o crescimento é mais lento, mas nem por isso menor. Segundo o Ministério da Saúde, em 2001, quando o procedimento começou a ser feito na rede pública, foram realizados 497 cirurgias ao custo de R$ 1,237 milhão para o SUS. Em 2003, o número passou para 1.178 procedimentos e R$ 5,7 milhões investidos. Em 2007 o Ministério da Saúde anunciou uma política para organizar e expandir na rede pública atendimento especializado a portadores de obesidade grave, inclusive com a oferta de cirurgia bariátrica. Em 2008, esse número chegou a 3.195 cirurgias, que custaram R$ 15,736 milhões para os cofres públicos. No ano passado, foram realizadas 4.437 cirurgias bariátricas com investimento de R$ 20 milhões. Atualmente, 77 hospitais no país estão habilitados para fazer a cirurgia pelo SUS.

Há quatro anos o Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) oferece gratuitamente a cirurgia bariátrica aos pacientes que não têm condições financeiras de pagar pelo procedimento e necessitam da cirurgia para ter saúde e, consequentemente, qualidade de vida. Aproximadamente 300 pessoas aguardam na fila de espera para fazer a cirurgia através do HUOL que, segundo o cirurgião Reynaldo Quinino, proporciona um dos melhores serviços do país.

Em 2009, quando o serviço ainda não estava credenciado para receber verbas do Ministério da Saúde, a equipe do HUOL realizava - mesmo com recursos próprios - uma cirurgia por semana. Nesse período foram feitos cerca de 44 procedimentos. Ano passado o número foi bem superior. Após o credenciamento no MS, a equipe do HUOL, de acordo com Eudes Godoy, chefe do serviço de cirurgia de obesidade e doenças relacionadas, passou a operar cerca de duas ou três pessoas por semana. Ou seja, uma média de 132 pacientes foram beneficiados.

Desde o início, o procedimento é feito porvideolaparoscopia, menos invasivo que as cirurgias comuns. "Muitas pessoas de outros estados que têm familiares no Rio Grande do Norte se cadastram aqui e conseguem se operar. Da mesma forma que os nossos conterrâneos procuram atendimento também em outros estados", disse.

Esperança
Desde a infância a agricultora Maria José Alves Alexandre, 33 anos, sempre teve dificuldade em manter o peso ideal. Ela conta que tentou diversas dietas, mas passou a perceber que o sacrifício não modificava seu peso em nada. "Era uma dificuldade muito grande e eu não perdia uma grama", afirma. O sonho de se ver magra através de uma cirurgia bariátrica não passava das noites de sono devido às poucas condições financeiras.

Contudo, foi em um gesto de solidariedade que Maria José viu a "distante possibilidade" chegar mais próxima à sua realidade. A agricultora ia doar o rim para a mãe que depende de sessões de hemodiálise quando a equipe médica do HUOL resolveu incluir seu nome na lista de espera pelo procedimento. "Eles fizeram umatomografia e descobriram que eu tinha uma espécie de massa no abdômen próximo a veia aorta. Fiz a cirurgia para retirada dessa massa, mas os médicos disseram que iam me incluir também na lista para a cirurgia de redução de estômago", disse.

Apesar de estar na fila há dois anos e sete meses, a agricultora não perde a esperança e ainda diz: "Imagino que tem gente com a situação pior do que a minha, por isso estão me deixando para depois". A agricultora pesa 120 quilos e mede 1,63m. O Índice de Massa Corpórea (IMC) da agricultora atualmente é 45,1. Valor bem superior ao recomendado pelos especialistas que é de 18,5 a 24,9. Uma das frustrações trazidas com a obesidade foi a impossibilidade de ser mãe devido aos ovários policísticos, alteração que pode ocorrer especialmente com mulheres que estão com sobrepeso.

Por fim, a agricultora relata: "É muito triste a vida do obeso. Me viro nos trinta para fazer coisas simples como caminhar porque fico com as pernas inchadas. Já perdi muitas noites de sono, mas estou com esperança porque o médico disse que acha que me chama em agosto para fazer a cirurgia".

 

 

 

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