terça-feira, 25 de abril de 2017

PCC avança fronteira e explode empresa no maior roubo da história do Paraguai



As polícias do Brasil e do Paraguai acreditam que o Primeiro Comando da Capital (PCC) está envolvido no assalto milionário à empresa de transporte de valores Prosegur, em Ciudad del Leste, no Paraguai, na madrugada de ontem. Pelo menos 30 homens usando armamento de guerra – como metralhadora ponto 50 (capaz de derrubar helicóptero), fuzis e explosivos – roubaram US$ 40 milhões (R$ 120 milhões). Um policial e três bandidos morreram e quatro pessoas ficaram feridas na ação e na perseguição. O assalto é apontado como o maior da história do Paraguai.

Segundo a polícia do Paraguai, por volta da 0h30, grupos divididos em vários veículos cercaram os acessos à transportadora e derrubaram os muros com explosivos e tiros de fuzis e metralhadoras. A ação durou quatro horas e os bandidos queimaram carros e jogaram pregos (miguelitos) na via para dificultar a chegada dos policiais. Parte da quadrilha conseguiu cruzar a fronteira e passar para o lado brasileiro por volta do meio-dia, via Lago de Itaipu. No caminho, trocaram tiros com a polícia. Três bandidos acabaram mortos e as armas usadas na ação foram apreendidas.

Veículos foram roubados para fuga e propriedades rurais, invadidas. Um homem acabou ferido com dois disparos ao tentar embarcar para São Paulo na rodoviária de São Miguel do Iguaçu, onde foi preso. A polícia acredita que os membros do grupo se dividiram na fuga e apenas 10 a 12 integrantes teriam passado para o lado brasileiro.

O ministro do Interior do Paraguai, Lorenzo Lescano, disse que “tudo aponta para o PCC”. Ele ressalta que os veículos usados tinham placas do País e os atacantes fizeram diálogos fluentes em português. “Vão, vão, não olhem para trás”, diziam às testemunhas.

O clima em Ciudad del Este após o assalto era de tensão. A residência de um casal de idosos na frente da empresa foi parcialmente destruída. Com medo, Alejandro Anisimoff e a mulher permaneceram por três horas escondidos embaixo da cama. Nove escolas municipais suspenderam as aulas. O mesmo aconteceu na Universidade UPAP, onde estudava o policial morto, Sabino Benítez.

Logística

Em nota, o presidente Michel Temer lamentou o fato e colocou a Polícia Federal à disposição do Paraguai. Para o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, o PCC espalhou essa modalidade de roubo para outras quadrilhas do Brasil e da América do Sul. “A ação foi idêntica aos roubos às empresas de transportes de valores no interior de São Paulo (mais informações nesta página). Não há dúvida da participação do PCC, seja no planejamento, na execução ou no uso das armas”, disse. No fim de 2015 e começo de 2016, o PCC roubou mais de R$ 140 milhões em ataques contra transportadoras de valores, em Campinas, Santos e Ribeirão Preto, no interior paulista.

Série de mortes

De acordo com as investigações, o PCC controla o tráfico de drogas e armas na fronteira com o Paraguai desde a morte de Jorge Rafaat Toumani, em uma emboscada em Pedro Juan Caballero, em junho de 2016. Ele atuava como intermediário do crime organizado no comércio de cocaína, maconha e armamento pesado e foi morto com tiros de ponto 50, que perfuraram o carro blindado em que estava.

Conforme a Secretaria Nacional Anti-Drogas (Senad) do Paraguai, ao bancar a execução do “rei da fronteira”, a facção paulista se credenciou para assumir as principais posições ao longo da linha internacional. As bases do PCC, antes concentradas em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu, foram estendidas a Salto del Guaíra, na fronteira com Guaíra, no Paraná, e Pedro Juan Caballero, vizinha de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul.

Depois da morte de Rafaat, houve ao menos 38 execuções na fronteira, em um processo de eliminação dos supostos colaboradores dele. “Com a estrutura montada, o passo seguinte é mostrar força e marcar território, além de reforçar o caixa. Podem acontecer mais ataques (a empresas) no Paraguai ou na Bolívia”, alertou Edgar Almada, diretor Antidrogas da Senad.

“Não foi uma ação do PCC contra eventuais inimigos. A ação foi contra uma empresa, já conhecida no Brasil e alvo de ataques”, explicou o procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino, especialista em crime organizado.

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